O Partido dos Trabalhadores (PT) no Amapá enfrenta um momento de turbulência e racha interno, com acusações de falta de democracia e nepotismo envolvendo a atual liderança. As principais vozes dissidentes dentro da legenda não hesitam em criticar a gestão do presidente Zé Luiz e seu irmão, Antônio Nogueira, ex-prefeito de Santana, pela maneira como têm conduzido o partido no estado.
Segundo militantes, o PT no Amapá se encontra no "negócio popular", e apontam para uma gestão centralizada nas mãos de uma única família, o que consideram um erro. "O presidente foi colocado de maneira errônea", disse um dos militantes que preferiu não ter seu nome citado, referindo-se a Zé Luiz, que, de acordo com ele, assumiu a presidência do partido sem uma eleição legítima e sem a devida aprovação do diretório estadual. "Não houve uma eleição no PT no Amapá, mas uma nomeação sem o devido processo", critica.
O ponto central das acusações envolve o fato de que Zé Luiz, após ser presidente, teria colocado o irmão no comando de importantes secretarias e órgãos estaduais, como a Secretaria da Pesca e o Ibama. A suspeita de nepotismo e falta de transparência em relação às nomeações tem gerado grande insatisfação entre as lideranças internas do PT.
A militância descontente expõe frustração com a gestão atual: "A família inteira de Zé Luiz dirige as instituições no estado. Ele não escuta as outras lideranças do partido, e não há espaço para o debate, algo que é fundamental para a nossa formação", lamenta. Para eles, a gestão tem se tornado cada vez mais fechada e sem espaço para discussões internas. "Não dá para colocar coleirinha no pescoço de todos os petistas", completa, referindo-se à centralização das decisões.
A insatisfação também se estende à forma como o partido tem se comportado durante os últimos processos eleitorais. Durante as eleições municipais, Zé Luiz e Nogueira teriam colocado candidatos bolsonaristas para disputar prefeituras pelo PT, algo que gerou ainda mais divisão dentro da legenda. "Eles abandonaram a disputa para apoiar aqueles que eram bolsonaristas", denuncia a militância, que considera esse tipo de atitude uma traição aos princípios históricos do PT.
No município de Santana, o controle sobre a Secretaria de Educação e outros cargos importantes é atribuído ao ex-prefeito Nogueira, o que, para os dissidentes, configura um uso indevido de poder para garantir vantagens políticas. "Ele tem mais de mil contratos na Secretaria de Educação e terceirizou tudo, desde serventes até merendeiras", destaca. Essa estrutura, segundo uma outra militante, favorece a manutenção de uma base política que coloca o partido em desvantagem nas disputas eleitorais.
A situação levou ao fortalecimento de um movimento de resistência dentro do partido. Membros dissidentes buscam reorganizar o PT no Amapá e se preparar para as eleições internas, previstas para o dia 6 de julho de 2025. "Nós vamos para essa disputa sem medo, com força e sem medo de fazer o embate", afirma com firmeza.
Entre os dissidentes, o nome de Antônio Elias Ayres tem se destacado como o possível candidato a presidente estadual do PT. Ayres, conhecido por sua longa trajetória dentro do partido, é visto como uma alternativa à atual gestão. A chapa estadual, composta por diversas tendências internas, ainda está sendo montada, e a definição das chapas municipais segue em andamento.
Apesar da resistência crescente, a situação permanece tensa dentro do partido. "Hoje, o xerife do PT no Amapá é o Nogueira, e ele está se beneficiando dessa centralização de poder", aponta a militante. A frase sintetiza o sentimento de insatisfação que permeia as lideranças que buscam retomar a autonomia do PT e garantir que o partido volte a ser um espaço democrático, onde a pluralidade de ideias seja respeitada e as decisões sejam tomadas de forma coletiva.
O futuro do PT no Amapá dependerá dos próximos passos que o partido der, especialmente nas eleições internas que se aproximam. A expectativa é que a disputa interna traga à tona as divisões mais profundas, mas também possa ser uma oportunidade de reconstrução e renovação para o partido.
Comentários: