A presença chinesa na Amazônia, especialmente no Amapá, vem se intensificando como parte de uma estratégia global de expansão econômica e de busca por recursos naturais. Nos últimos anos, o extremo norte do país tornou-se um ponto de interesse para grupos empresariais e investidores da China, atraídos pela abundância mineral e pelo potencial logístico do estado. A mais recente demonstração desse movimento ocorreu nesta segunda-feira (13), em Belém (PA), durante uma reunião entre o Governo do Amapá e representantes da empresa Aliança China–Brasil para Indústria Sustentável da Amazônia (ACBISA), intermediada pela Secretaria de Estado da Mineração (Semin).
O encontro simboliza um novo capítulo na aproximação sino-amapaense. Os empresários da ACBISA, vinculados à Câmara de Comércio de Desenvolvimento Internacional Brasil–China (CCDIBC), manifestaram interesse em setores estratégicos como ferro, cassiterita, tantalita, madeira e pescado, consolidando a mineração e os recursos naturais como pilares centrais dessa parceria. Segundo o secretário da Semin, Haolibamo Mamede Alles Barbosa, a China já figura como o principal parceiro comercial do Brasil, movimentando em 2023 um volume recorde de US$ 158 bilhões em trocas comerciais.
O Amapá desponta, portanto, como uma fronteira econômica de oportunidades. Sua posição geográfica privilegiada – com acesso direto ao Atlântico Norte – e seu vasto potencial mineral, que inclui manganês, ouro, ferro e nióbio, o colocam no radar das potências globais que buscam diversificar fontes de suprimento e fortalecer cadeias produtivas. O governo estadual tem se empenhado em oferecer um ambiente de negócios atrativo, apostando na exploração sustentável e na geração de empregos qualificados.
Uma análise econômica mais profunda
A aproximação entre a China e o Amapá reflete um movimento mais amplo da estratégia chinesa de consolidação de sua presença na América Latina, especialmente em regiões ricas em commodities estratégicas. Especialistas em economia internacional apontam que o interesse chinês não é apenas comercial, mas geoeconômico: trata-se de garantir acesso direto a matérias-primas essenciais para sustentar sua indústria tecnológica e energética.
A mineração amapaense, por exemplo, representa um ativo de alto valor em um contexto de crescente demanda global por minerais críticos, usados em tecnologias como baterias, semicondutores e veículos elétricos. Ao estabelecer relações com estados amazônicos, a China busca não apenas assegurar o fornecimento desses recursos, mas também inserir-se em cadeias de valor regionais, apoiando-se em acordos de cooperação e transferência de tecnologia.
Outro ponto relevante é o impacto potencial sobre a balança comercial regional. Investimentos chineses podem estimular a diversificação econômica do Amapá, tradicionalmente dependente de repasses federais e de setores extrativistas de baixo valor agregado. A chegada de capital estrangeiro, se bem administrada, pode modernizar a infraestrutura portuária e logística, ampliar a industrialização local e integrar o estado às rotas de exportação globais – sobretudo via Corredor Norte e Porto de Santana.
Por outro lado, há desafios que exigem atenção. A dependência de investimentos de um único parceiro pode gerar vulnerabilidades, especialmente diante de flutuações no mercado internacional e nas relações diplomáticas entre Brasil e China. Economistas alertam que é essencial que o estado estabeleça mecanismos de regulação, transparência e sustentabilidade, para garantir que os benefícios da parceria se revertam em desenvolvimento social e preservação ambiental.
Um novo eixo de desenvolvimento
A crescente presença chinesa no Amapá simboliza mais do que um movimento comercial – é a reconfiguração do mapa econômico da Amazônia. O estado, antes visto como periferia industrial, passa a ocupar papel estratégico nas relações internacionais do Brasil. Se o diálogo com a China se consolidar de forma equilibrada e sustentável, o Amapá poderá se transformar em um hub de mineração, energia limpa e exportação sustentável, conectando a Amazônia ao mercado asiático e impulsionando uma nova era de prosperidade econômica para o extremo norte do país.
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